terça-feira, 16 de novembro de 2010

Som do Amapá, som da Mini Box Lunar

Uma  das principais atrações do Festival ATÉ O TUCUPI, a banda amapaense Mini Box Lunar, teve um bate papo virtual conosco pra falar de carreira, gestão da banda, inspirações e sobre o futuro.

Confira abaixo as respostas que Otto e JJ, o tecladista e uma das vocalistas da Mini Box, deram às nossas perguntas:


ATÉ O TUCUPI: Vamos começar com o básico: quais as principais influências da banda e como é o processo de composição de vocês?

MINI BOX LUNAR: O processo é coletivo, geralmente Helu e JJ aparecem com uma letra ou esboço de melodia e a banda "veste" a música, e com a abertura permanente para adendos fica mais fácil saber como tal canção deve ser apresentada no palco, mostrando um pouco de cada "minibox". As influências são os Novos Baianos (que estamos ouvindo nesse exato momento), Os Mutantes, Pink Floyd, Arnaldo Baptista, Carmem Miranda, um pouco de bossa, um pouco de carnaval, os anos 20 e de música brasileira, em especial a dos anos 60 e 70. No entanto há bandas contemporâneas muito influentes como Júpiter Maçã, Mopho, Do Amor, Curumim, Cidadão Instigado, entre outras... e cara, o Miranda (o produtor musical, Carlos Eduardo Miranda está produzindo o primeiro disco da banda) nos apresentou um universo de bandas novas e velhas que é impressionante! Tanto trabalho lindo e coisa que não conhecíamos! Destaco o Van Dirke Parks, e os álbuns do Erasmo Carlos dos anos 70 que pouco são ouvidos e que estão no top list das maiores obras fonográficas do mundo (ouçam Sonhos e Memórias do Erasmo).


Nós: A banda, embora tenha apenas 2 anos,  já circulou por quase todo o país, tocou com nomes importantes da música brasileira e foi incluída em uma coletânea lançada na Inglaterra. Como a banda conseguiu dar esses passos tão importantes na carreira? É tudo pensado e programado na gestão da carreira ou as coisas vão se adaptando às necessidades?

Eles: As oportunidades foram surgindo e desde o início decidimos investir em circulação, o que trouxe bons resultados pra gente enquanto banda e pessoa. Rolou o convite pra coletânea inglesa (que traduzida ficou "Oi! Nova música brasileira"), que ta rodando a Europa, um tempinho depois de nos verem no Festival Goiania Noise. Aconteceram também as possibilidades de parcerias artísticas com uma galera que nós sempre gostamos, como foi o caso do show com o Mautner, Nelson Jacobina e Jards Macalé. Ficamos somente julho e setembro em Macapá, o resto foi todo circulando. Muito desta itinerância é por conta do nosso trabalho/prazer que é o Coletivo Palafita e o Circuito Fora do Eixo, que foi uma das melhores coisas que surgiram nesses últimos anos no Brasil. Somos coletivos de tecnologia social que praticam um modelo de gestão que tem permitido uma oxigenação nos debates e perspectivas da música, audiovisual, teatro e outras linguagens que se apresentam nos circuitos interdependentes. É sempre bom ter uns objetivos na vida e com uma banda não é diferente. Como uma banda do Amapá conseguiria alcançar tudo isso? Com planejamento: 30% inspiração e 70% transpiração.

Nós: É bastante incomum para as bandas do Norte terem uma circulação tão grande como a que vocês já têm, em geral as bandas pensam em investir logo nos produtos (CD, DVD, etc.) e tocar num circuito "noturno" de casas e bares da própria cidade. Por quê a banda optou por seguir um caminho que, de certa forma, é mais árduo, mais custoso?

Eles: É exatamente o contrário do oneroso! Temos em média 28 mil reais de investimento em circulação, e isso já começou a retornar em menos de um ano e meio, hoje já recebemos bons cachês e só de mídia espontânea esse valor seria triplicado, temos matérias em grandes revistas, coletânea gringa... enfim, saber usar o que tá a disposição de uma banda é que o segredo.


Nós: A Mini Box Lunar é uma das bandas mais fortemente associadas ao Circuito Fora do Eixo. Como é a relação de vocês com o circuito e a forma com que esse sistema interfere no processo, tanto de gestão quanto de criação, da banda?

Eles: O circuito devolve o que a pessoa/grupo investe nele. É um processo justo, sincero e muito dinâmico. Quanto mais retroalimentamos a rede mais ela apresenta novos rumos. E nos posicionamos enquanto coletivo-banda. Trabalhos muito aqui no Amapá e nacionalmente, sempre na pegada de "varadouro", abrindo espaços pra novas bandas e soltando o meme de que "se uma banda do Amapá circula tanto, por que eu que moro -em qualquer lugar do país- não consigo circular?". É um case de banda que, se planejando, continua morando na cidade de origem e circula o país inteiro. Assim como as grandes gravadoras estão morrendo eu acho que São Paulo vai desafogar de tanta banda de outras cidades indo pra lá. E quando se pensa em Circuito Fora do Eixo é pensar em sustentabilidade, foco constante nas ações, somos uma banda a fim de crescer dentro desse modelo, o de auto gestão compartilhada e de legitimação de um modelo que tá mais do que evidente de que dá certo e vai além.

Nós:  É possível viver de música no Brasil!?

Eles: Claro! É possível viver de qualquer trampo, basta encarar de forma séria, empreendedora e antenada, se ficar boiando perde o bonde, né? Toda profissão (no Brasil e em outros países) necessita de um planejamento, se encarada com muito amor, e se for música é melhor ainda, você lida com muitas coisas ao mesmo tempo, e todos devem ver que você leva a profissão com seriedade, é até uma maneira de emplacar um símbolo positivo do que você faz com mais facilidade. Amor é combustível pra tudo, de uma simples relação entre pessoas até uma grande revolução, tem que ter amor no DNA. E o Brasil tá mostrando que tá disposto a mostrar as várias formas de se viver bem, indo pra mais um período de governo popular, somos referência em música, em artes em geral, e seria muito paradoxal se não pudéssemos viver de música num país de Tom Jobim/Vinicius, Carmem Miranda, Rita Lee e os Baptistas, Cazuza, Cartola, Sergio Sampaio, de Moraes e de Ney... Cara, seria uma ofensa enorme quem se propõe a viver de musica e não consegue, devemos honrar esses e os inúmeros nomes que mostraram que temos especificidades e que são jóias.



Nós: Após a gravação do CD, quais os próximos passos da banda?

Eles: Então, nosso cd será gravado em janeiro com a produção do Miranda e direção do Fabricio Nobre, no Rio (Toca do Bandido). Mas nesse final de semestre ainda temos muita coisa pra cumprir: shows, palestras e workshops, a viagem pra Índia - fomos convidados pra tocar num grande festival lá, estamos felizes e esperando a hora de embarcar pra lá, será mágico. E em 2011 é a divulgação do disco, e o que mais pintar, estamos trabalhando, e toda bênção é bem vinda, a rede FDE vai crescer ainda mais, e estamos no processo de internacionalização, 2011 é o ano de outros países conhecerem nosso modelo.

Aproveitem e vejam um vídeo da banda cantando Amarelasse, música do primeiro EP:

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